Filmógrafo vida de perdição
A Filmógrafo é a minha vida e a minha perdição, a alegria de poder trabalhar no que gosto, o reconhecimento do que fui fazendo e o stress das enormes dificuldades financeiras.
Animar é uma paixão que como todas as amantes nos exige uma grande dedicação e empenhamento, sempre presente é raro ter uma folga, um descanso. Mas por outro lado é uma grande família que se espalha por todos os cantos do mundo e é nesta família que encontramos um ombro amigo para partilhar as nossas incertezas, os nossos resultados e chorar as nossas amarguras.
A animação é um espelho da alma, da nossa postura e das nossas convicções. Tudo tem um fundo de política no seu sentido humanista e não panfletário e nada é inocente ou fruto do acaso. Um filme é sempre uma reflexão individual e subjectiva onde os valores morais do seus autores se espelham e é precisamente neste reflexo que se estabelece a comunicação. Mais do que a sua história um filme de animação transmite a vivência, o sentimento, a fruição estética assumida pelo seu autor e partilhada com o público e quanto maior for o empenho do seu autor maior será a atenção do espectador e melhor esta comunicação se estabelece.
A procura da um lugar ao sol obriga-nos a fazer o melhor que sabemos a procurar o que melhor temos dentro de nós. Só na nossa experiência, nas nossa vivências, nas nossas raízes e na nossa cultura poderemos encontrar um caminho próprio e original. Esta é a ambição natural dos jovens à procura alcançar a fama mas que, depois de a termos conseguido, paradoxalmente deixamos de ter condições para seguir o nosso rumo tranquilos e somos sistematicamente solicitados para outras tarefas e outros afazeres e começamos então a sonhar com os tempos do anonimato, com aqueles dias tranquilos em que ninguém se lembrava de nos interromper no trabalho e onde nos conseguíamos concentrar no trabalho no que verdadeiramente gostamos.
Um filme não é um trabalho isolado de um único autor, é uma Arte multifacetada onde a colaboração e a cooperação de todos é fundamental tal como o trabalho numa colmeia onde cada um tem uma função a cumprir e onde é essencial que todos tenham o mesmo carinho, exigência e dedicação para que a comunicação não se perca. Neste contexto o som assume particular importância, sobretudo porque tem sido tradicionalmente menosprezado em detrimento da imagem, mas pode e deve ter uma presença e um papel próprios a desempenhar no resultado final de qualquer filme e tanto maior será a sua força quanto mais afirmar a sua própria linguagem, que idealmente deverá estabelecer um diálogo em pé de igualdade com a imagem. É esta atitude que tenho encontrado no Tentúgal ao longo desta já longa colaboração que nem sempre foi fácil mas que foi sempre de extrema importância no papel que a música tem sabido desempenhar no trabalho da Filmógrafo.