Exposição dos Desenhos Originais
Da mesma autora de A Noite, os bastidores do seu novo filme: História Trágica com Final Feliz. Exposição dos desenhos originais: estudos, animações, cenários e gravuras
As histórias que gosto contar são sempre simples, acerca de pessoas que conheci. Umas ainda vivem, outras não. Tiveram vidas anónimas ou ignoradas, passaram despercebidas por este mundo e rapidamente foram esquecidas. Interessam-me os mistérios, os pequenos dramas e a poesia que se escondem nas suas vidas aparentemente banais. São elas os meus heróis e as minhas referências.
Neste novo filme quis continuar a usar a gravura, pois é uma técnica com um potencial gráfico bastante atraente, nomeadamente ao nível do jogo de luz e sombras que permite.
Todavia partilhei o trabalho de execução com uma equipa de animadores, intervalistas, e gravadores que aplicaram uma técnica de gravura especial, que tive de desenvolver para poder obter os resultados que procurava.
As ideias deste filme surgiram num trabalho de gravura e serigrafia, enquanto estava a estudar nas Belas Artes, cada frase inspirava uma gravura e cada imagem sugeria uma nova frase e assim foram surgindo novos desafias técnicos e estéticos. Um longo processo de produção se seguiu
Seguimos uma menina e descobrimos que ela não é igual às outras pessoas, é “diferente”. O traço que a faz diferir não só incomoda a comunidade a que pertence, como se traduz por um profundo sofrimento individual. A comunidade e a menina reagem à diferença, a primeira manifestando a sua intolerância, a segunda isolando-se.
Com o tempo, a comunidade acaba por habituar-se insensivelmente à presença da diferença, distanciando-a, mas ao mesmo tempo integrando-a na voragem do seu quotidiano.
Porém as diferenças existem, persistem e são irredutíveis. Certas vezes possuem razão de ser e correspondem a estados temporários de trânsito para outros estados de existência, certas vezes são fatais... Seja como for, devem ser assumidas por quem as vive para a levarem a um melhor conhecimento de si própria e a uma mais intensa consciência do mundo.
Um dia partirá e deixará a comunidade, que compreenderá, demasiado tarde, que o tal ser estranho que sempre mantivera à distância, tinha acabado por fazer misteriosamente parte da sua vida...
No meu filme anterior (A Noite) usei a gravura sobre placas de gesso, animando directamente sob a câmara. Revelou-se um trabalho com resultados gráficos muito interessantes, mas extremamente moroso, solitário e penoso.
Neste novo filme quis continuar a usar a gravura, pois é uma técnica com um potencial gráfico bastante atraente, nomeadamente ao nível do jogo de luz e sombras que permite.
Todavia, tendo aprendido com a experiência anterior, era necessário tornar mais leve e menos lento o trabalho de animação e finalização. Assim sendo, partilhei o trabalho de execução com outros 2 animadores e 3 intervalistas, finalizando os desenhos com uma pequena equipa de 6 pessoas que aplicaram uma técnica de gravura especial, que tive de desenvolver para poder obter os resultados que procurava: os desenhos da animação eram fotocopiados sobre um papel especial, para cartazes, eram então recobertos de tinta da china negra e depois raspados, o que lhes conferiu este aspecto muito próximo da xilogravura ou do “scraper board”.
Para a finalização recorremos ainda às potencialidades que o computador nos oferece, sobretudo para combinar os diferentes níveis da animação com os cenários e efectuar um ou outro movimento de câmara.
Exposição itinerante organizada pela Ciclope Filmes em colaboração com L’Equipée (França).
Apoios: Casa da Animação, Faro Capital Nacional da Cultura 2005, Ambassade de France. Câmara Municipal do Porto.
Locais de exposição
Casa da Animação - Porto Galeria Trem - Faro Rencontres 10/10 - Bretanha
Festival d'Un Jour - Valence - França Animaio - Abrantes